quinta-feira, 30 de abril de 2009

Vida real

Vi na rua uma menina de no máximo quatro anos que falava ao celular. Feliz ela chamava pelo pai e lhe contava histórias. Tudo seria normal se encostado ao ouvido ela tivesse um telefone. É que na verdade ela falava com um folder de propaganda de aparelhos celulares.
Ah, a imaginação!


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terça-feira, 21 de abril de 2009

O restaurante branco onde se serve passado

Ela veio cansada do trabalho. Teria que almoçar sozinha, o que lhe causava desânimo. Aliás, nos últimos tempos, tudo lhe causava desânimo. O trabalho já não era mais o que ela queria, as brigas constantes com o marido a entristeciam cada vez mais e uma leve tristeza já fazia parte do olhar.
Ao virar a esquina, viu a placa de um restaurante. Estranho, nunca o havia visto naquele lugar. A casinha branca e simples chamava a atenção. Decidiu parar para almoçar. Adentrou o pequeno portão que separava a rua do jardim. Orquídeas roxas eram banhadas pelo sol, uma brisa suave tomava conta de tudo.
A construção antiga era aconchegante. Mesas e cadeiras delicadas mobiliavam o local. Fotos antigas nas paredes davam um ar nostálgico a tudo aquilo. Pela janela dos fundos pode ver jabuticabeiras.
Um garçom veio atendê-la. Pediu strogonof de frango e um refrigerante. Enquanto esperava, pensava na vida. Nas contas do fim do mês que já estavam vencendo, na falta de dinheiro, no relacionamento com o marido e no trabalho.
Estava perdida nesses pensamentos quando colocaram o prato em cima da mesa. Mas aquele não era seu pedido. Levantou os olhos para reclamar e, surpresa, deu de cara com a avó, que sorridente a olhava.
Como podia ser? A avó havia morrido há anos. Mas ela não teve medo, muito pelo contrário. Sentiu-se feliz. Olhou para o prato e viu que aquela era a sopa que só a avó sabia fazer. Era a sopa de sua infância. O prato especial para meninas especiais, como a velhinha costumava dizer.
A senhora sentou-se na cadeira em frente à neta e conversaram por horas. Lembraram das travessuras de criança e de como a avó acobertava e protegia a menina. Riram juntas, cantaram como antigamente e acariciaram-se.
Como sempre fazia, a avó levantou-se da mesa, pegou o prato já vazio, deu um beijo na neta e caminhou até a cozinha. A mulher não pode mais seguir a velhinha com os olhos, já que alguém a chamava pelo nome.
Ela olhou para o lado e viu um homem com uma flor na mão. Aquelas feições eram de alguém que ela conhecia, mas não se lembrava de quem eram. Ele, sorrindo, continuou a ofertar o presente.
Ela estendeu a mão e quando segurou a flor lembrou-se. Guilherme. Aquele era Guilherme, o namoradinho da infância. Na mesma hora, uma valsa começou a tocar. Era a música que eles haviam dançado no aniversário de quinze anos dela. Eles tinham se preparado por meses e mesmo assim ele errara os passos na hora da festa. Ela riu e os dois começaram a dançar.
A música acabou e Guilherme a beijou no rosto. Ele a fitou profundamente e disse: “Lembre-se de quando era criança”. Ela balançou a cabeça afirmativamente e ele se foi pela porta dos fundos.
Ela ficou ali parada por alguns minutos tentando entender o que havia acontecido. Não havia o que entender. Sentiu um alívio no peito. Saiu.

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segunda-feira, 6 de abril de 2009

A história de Goiás debaixo da lona do picadeiro

Foto: Layza Vasconcelos

Muitas crianças e adultos esperavam ansiosos pelo espetáculo. Como seria a história de Goiás contada dentro do circo?
E o espetáculo foi como deveria ser: com muita palhaçada, malabarismos, piruetas, música e é claro alegria. Os jovens que fazem parte do Circo Lahetô contaram a história do nosso Estado por meio de números circenses.
Os palhaços Linguiça e Palito são o elo de ligação entre Goiás caipira e Goiás Country. O estado que dança catira, que tem coronéis, roça e moças na janela em contraponto com aquele que tem trânsito congestionado, que dança country e é moderno.
A apresentação começa com tochas de fogo. Bolas de fogo são sopradas na direção da platéia. As crianças gritam muito. E os gritos misturados com a escuridão, que é cortada pelo fogo, deixa a cena emocionante.
Depois entram os índios, nossos primeiros moradores. Pequenas crianças com grandes pernas de pau representam como esses povos viviam até a chegada do homem branco.
O encontro dos portugueses com os nativos é marcado pela violência. Correria no picadeiro. Cambalhotas, piruetas e saltos para escapar do inimigo. Mas ao final, as armas vencem e os índios são mortos.
A parte de mágica fica à cargo do Anhanguera. Esse mesmo, o Diabo Velho, que colocou fogo na cachaça e falou que era água para amedrontar os índios. O Anhanguera é assustador. Alto (também usa perna de pau), magro, com uma roupa cinza e barbudo.
E assim vamos percorrendo os tempos. As fazendas, as plantações, a vida do homem do campo. E de repente, os milhos da roça se tornam objetos para malabares. As árvores são meninas que se equilibram em uma pequena tábua sobre cilindros.
Uma das partes mais bonitas e meigas é a das meninas trapezistas. São três artistas que representam as namoradeiras das janelas dos casarões antigos. Elas bailam no ar enquanto os rapazes as observam e as cortejam no chão.
Goiás dos coronéis (número de palhaços) e dos meninos criados soltos (número de tecido acrobático). E, enfim, Goiás da modernidade. O transito caótico é representado pelos monociclos. Monociclos de todos os tamanhos. E ao final, a catira na perna de pau.
Vinte e dois artistas compõem o espetáculo. Amadores e profissionais unidos para levar ao público um pouco de nossa história no espetáculo que se chama “História de Goiás no Picadeiro”, com direção geral de Maneco Maracá.
Um jeito divertido de conhecer um pouco mais a nossa origem. Se espetáculos pudessem ser colocados em caixinhas e dados de presente, com certeza eu ofertaria “História de Goiás no Picadeiro” pra muita gente por aí.

Obs.: Esse espetáculo será apresentado nas cidades de Anápolis, Pirenópolis, Aparecida de Goiânia, Alto Paraíso, Goiás, Rio Verde, Jataí e Mineiros, entre 17 de abril e 28 de junho.

Quem quiser saber mais sobre o Circo Lahetô e o projeto social que ele realiza é só acessar o site: www.circolaheto.org

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