quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pedido de casamento

Não se viam há dois anos.
- Oi!
- Quer casar comigo?
- E já instituíram a bigamia no Brasil?
Sorriso
– Eu me separei.
- Nesse caso a resposta é sim.
- Quando?
- Só não pode ser agora porque estou ocupada arrumando o som do palco.
- Como será?
- Como você quiser. Com festa, sem festa, com convidados, sem convidados. Posso ir vestida de branco, vermelho ou até de fantasia. Pode ser numa capela, na maior igreja da cidade, no cartório, num templo budista, pendurada num guindaste, me jogando de bungee jumpe, debaixo d’água ou rolando nas areias de uma ilha havaiana gritando “honalulu”.
Mais sorrisos.
- O que importa é o que está aqui dentro. (Ela toca o peito dele)
- Te amo!
- Também te amo!
- Estou falando sério!
- E quem disse que estou brincando?

Para ouvir "Nosso estranho amor": http://www.youtube.com/watch?v=zpWAiRBIlXk

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domingo, 27 de setembro de 2009

Saudade

Naquele dia sentiu tanta saudade que seria capaz de tocá-la, assim como tocamos coisas materializadas. Pensamentos, sorrisos e um gosto de passado vieram à tona. Lembrou-se de cada momento, de cada encantamento. Achou que não poderia encontrar o por que de tudo isso ter começado, mas também não achou a razão de ainda não ter terminado.
Tentou ler, escrever, comer, olhar pela janela, mas nada fez com que passasse a saudade. Se odiou e se amou por isso. Não dava para ligar e não tinha palavras para um e-mail. Nada resolveria.
São essas coisas que devem ser esquecidas, mas que insistem em durar na memória.

“Aonde está você?
Por que é que você foi?
Não quero te esquecer
Mas já fiquei tão longe, longe
Não dá mais pra voltar
Eu nem me despedi
Aonde é que eu vim parar?
Por que eu fiquei tão longe, longe, longe, longe”
(Arnaldo Antunes)

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=KxQF00oT3dU&feature=related


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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pra não ganhar a caneta da prefeitura, resolvi estudar

Quando somos crianças, algumas pessoas são fundamentais para nos ajudar a desenhar o que seremos no futuro. São aquelas pessoas que nos mostram luzes lá no fundo e que vamos seguindo.
Alguém fundamental para que eu me tornasse o que sou hoje foi meu padrinho. Ex-piloto de aviões, aposentado depois de caiu no mar, apaixonado por livros e principalmente a pessoa mais excêntrica que conheci na vida.
Meu padrinho tinha os cabelos grisalhos, usava óculos de massa (numa época em que isso não era moda) e vestia camisas que variavam de cinza à azul claro.
Sempre que eu chegava na casa dele (uma das maiores casas que entrei na minha infância) curiosamente ele estava no banho. Era muito divertido. Ele passava horas debaixo do chuveiro cantando óperas na maior altura possível e sem se incomodar com as visitas. Eu não entendia direito que gritaria era aquela, mas gostava.
Enquanto minha madrinha se ocupava em me dar bonecas, ele me apresentava a leitura. Mesmo quando eu mal sabia ler, ele já fazia assinaturas de revistas infantis pra mim. Uma revista divertida chamada “Nosso Amiguinho”, com histórias, brincadeiras, coisas para pintar, colar e recortar.
Era ele também que se impressionava com os desenhos que eu fazia aos três anos de idade. Para ele, eu deveria ser matriculada imediatamente numa escola de artes e viraria um gênio das artes plásticas!
Mas a cartada fatal veio quando eu estava no segundo ano do Jardim da Infância. Um dia a professora brigou comigo e eu decidi parar de estudar (no auge da minha rebeldia de quatro anos de idade). Meu padrinho, implacável, veio me dizer que se eu não estudasse eu ia ganhar a caneta da prefeitura. Caneta da prefeitura?! É, a vassoura usada pelos garis para varrer as ruas. E assim eu passaria todos os dias da minha longa vida limpando as ruas de Goiás.
Preferi voltar pra escola...

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domingo, 13 de setembro de 2009

Chegou em casa depois de mais um dia exaustivo de trabalho. Caminhou até a varanda para saudar os passarinhos. Mas não havia mais pássaros. A porta aberta da giola denunciava que algo de errado tinha acontecido. Caminhou incrédula pelo jardim. Olhou cada árvore à procura deles. Nada.
Entrou em casa e pode sentir o peso da solidão. As paredes haviam se agigantado, os cômodos estavam maiores, começou a reparar em espaços nunca antes vistos. E lá não havia ninguém.
Sentiu uma buraco abrir-lhe o peito. Algo que comprimia o coração. Deixava a respiração mais curta. As lágrimas rolaram pela face. Queria um abraço.
Correu até o armário e pegou a caixa velha de giz de cera. Desenhou pessoas nas paredes. Assim não estaria mais só.

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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Descansa coração

Naquele dia ela estava cansada até para escrever...
Dormiu abraçada com o travesseiro, como se ele pudesse protegê-la do medo que estava sentindo.

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=TAhv4f3EHWg

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Waffles com suco de uva

Algumas coisas são tão simples que me impressionam. Agora mesmo chove lá fora. Gosto de olhar a simplicidade da chuva. Ela cai e pronto. Lava a rua, os pontos de ônibus, os troncos das árvores, minha janela e tudo o que encontra pelo caminho. Aposto que os pingos d’água não questionam para onde devem correr quando tocam o chão. Eles vão...
Fico pensando porque algumas coisas são complicadas. Na verdade eu queria saber por que complicamos as coisas, principalmente as do coração. Às vezes somos mestres em tornar as coisas mais difíceis pra nós mesmos.
Certa vez ouvi de uma amiga que um casal de conhecidos dela iriam se casar. O namoro havia começado com um convite. Um dia a moça passava por uma praça e ele disse: “Vamos comer waffles de chocolate com suco de uva na minha casa?” E ela foi. Aí começava o namoro que se transformaria em casamento. Aposto que hoje eles comem arroz com feijão enquanto riem ou brigam por alguma coisa. Simples assim...
Imagine se o rapaz ficasse pensando que para agradar a moça deveria levá-la num restaurante caro, comer uma comida chic, acompanhada pelo melhor vinho? E se ela, ao receber o convite para comer waffles com suco tivesse pensado que a roupa não estava adequada, a sobrancelha não estava feita ou o cabelo despenteado? Não teria namoro, nem casamento e muito menos história simples.
Às vezes é preciso deixar as coisas fluírem. Como aquela música dos Beatles “Let it be”. É, acho que vou ali aprender como cair com a chuva...

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=YBPFvp750sc

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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Com amor


Há muito tempo venho percebendo sua indiferença. Já não há mais graça nas nossas antigas graças. Você não ri mais das minhas piadas, não se interessa por minhas histórias e diz que está cheio das minhas poesias. O macarrão que você gostava tanto hoje já não tem sabor, da nossa sobremesa preferida (uma mistura maluca de sorvete de morango, chocolate e maracujá) você enjoou.
Seus olhos distantes já não veem mais minhas roupas novas, o cabelo cortado ou até mesmo quando passo de lingerie na sua frente. Mas eles são capazes de ver tudo aquilo que possa ser criticado: quando eu como diante do computador, minhas celulites antes imperceptíveis, meu tênis sujo de lama depois de um dia chuvoso...
Sinto que por mais que amemos alguém e por mais que esse alguém seja interessante, um dia começamos a nos desinteressar. Acho que é isso que está acontecendo com você. Talvez nosso amor esteja pendurado por um fio, o fio do comodismo, única coisa que resta depois desses anos vivendo juntos.
Tenho medo do que possa acontecer. Medo de que nossas brigas nos tornem desprezíveis um para o outro. Se continuarmos assim, talvez não reste nem respeito. Tremo só de pensar que um dia meu nome pode se tornar impronunciável pra você. Não quero que nosso amor seja lembrado como algo que nos machucou.
Escrevo essa carta porque estou indo embora. Pode abrir o guarda roupa, não há nada lá (fiz minhas malas durante dois dias e você sequer notou). Embarco hoje para Paris. Vou fazer o curso de Arte que sempre quis e que adiei quando nos conhecemos.
Deve estar se perguntando porque não falei tudo isso pessoalmente. Sei que seria o certo, mas não posso. Você bem sabe que costumo fugir de assuntos desagradáveis (como quando brigávamos e eu apenas te abraçava e chorava para não falar coisas ruins ou apenas fugia da conversa). Hoje, eu não podia olhar nos seus olhos e dizer adeus.
Quero guardar comigo apenas as recordações boas. Quero lembrar para sempre do nosso primeiro Natal juntos, quando você apontou para o céu e me deu uma estrela (presente que nunca acabaria); das cartas que me mandou quando ficou seis meses na Alemanha; de quando dançávamos depois do jantar; dos poemas que eu lia pra você antes de dormir; de quando quebrei a perna e você cuidou de mim; de todas as vezes em que estava triste e você soube exatamente o que dizer. Mas principalmente quero lembrar dos seus olhos de admiração quando me conheceu, do seu sorriso radiante e de como ficava desconcertado ao me ver. É assim que quero lembrar de você, com a pureza dos amores que começam.
Devo partir antes que tudo acabe definitivamente...


Esse texto é um meme proposto por Isa Sousa. A idéia é escrever um texto como se rompesse com alguém. Regras do meme: 1) Escrever uma carta como se estivesse rompendo com seu namorado. 2) Escrever estas regras e uma breve explicação do que é o meme. 3) Indicar cinco pessoas.

Li o texto da Lian no blog dela. Achei lindo e, para minha surpresa, ela me indicou para fazer um também. Eu, que nunca tive coragem de terminar com ninguém achei ótimo escrever uma carta dessas!

Eu indico: Karine Insuela, Aline Leonardo, Tereza Cristina, Marilena Gomes e Daniella Barbosa. (Escolhi pessoas que acho que farão textos lindos!)

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Universo ao redor


E então ela se mudou. Apartamento maior, com mais cômodos para acomodar sonhos. Na porta da sala pendurou um gato de tecido e na da cozinha, galinhas também de pano. Borboletas voam pelo espelho. Na janela, outra paisagem.
A atriz ainda não sabe que número fará no novo cenário. Imaginava como seria o espetáculo quando uma abelha entrou pela janela e sobrevoou a cama em que ela estava. Pensou: “Talvez aqui a vida será mais doce”.


P.S: Para Silva: http://www.youtube.com/watch?v=dN0A0ZSfnj4&feature=channel

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