sábado, 26 de dezembro de 2009

Lei da oferta e da procura

Pegou o grande livro e procurou atentamente até que finalmente achou: Lei da Oferta e Procura. “Nos períodos em que a oferta de um determinado produto excede muito à procura, seu preço tende a cair. Já em períodos nos quais a demanda passa a superar a oferta, a tendência é o aumento do preço”.
Então era disso que ele falava? Como basear os relacionamentos humanos em leis econômicas?
Pensou, pensou e decidiu. Pendurou no peito uma grande placa onde se lia: Não há vagas. Colocou no dedo um anel onde se lia: Para sempre.
No outro dia, dobrando a esquina, já se podia ver a fila que se formava em frente a casa. Todos queriam um pouco daquele produto tão escasso no mercado. Amor verdadeiro, diziam, estava em falta e poderia ser para sempre. Nem mesmo no mercado paralelo poderiam achar. Outros ainda contavam, como que sussurrando, sabiam de gente que tinha oferecido tudo o que tinha, mas ela havia recusado a oferta. E os mais pessimistas constatavam: É, não há saída. Dizem que até mesmo o Governo vai confiscar o que ainda resta por aí. Tem-se que estocar para o futuro.
E ela espiava rindo da janela. Um riso louco de quem não entende os seres humanos.

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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A árvore proibida



E por capricho colocou a árvore no meio do bosque. Frondosa, de longe a mais bonita entre todas. As frutas vermelhas e grandes exalavam um cheiro doce e convidativo.
Mas aos pés da árvore escreveu em uma pequena placa: Proibido. Sem maiores explicações, apenas Proibido. E por assim ser, as frutas chamaram ainda mais a atenção. Até que ela tentada por tudo aquilo comeu uma delas.
E dali em diante nada mais seria o mesmo...
- Proibido por quem?, perguntou Eva.
- Cala a boca menina curiosa! Não pergunte mais do que você pode compreender!, respondeu a serpente.
Saiu falando baixinho: Proibido. Mas não entendeu o verdadeiro significado, se é que há um significado quando apenas queremos.
E tudo já estava escrito antes mesmo de existirem macieiras e até mulheres.

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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Let it be

Muitas vezes eu fui contra o destino. Muitas vezes eu me revoltei, gastei todas as minhas energias e me empenhei ao máximo em tarefas que não teriam outro fim, a não ser naufragar. Chorei por quem não devia e quis tê-los ao meu lado, mesmo quando eles já não estavam mais.
Hoje começo a perceber lentamente que há horas em que a única coisa que nos resta é obedecer silenciosamente e nos resignar. Há sempre algo melhor depois das desilusões. Como diria aquela música dos Beatles, "There will be an answer, let it be".

"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído"
(Alberto Caeiro)

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