sexta-feira, 26 de junho de 2009

Óculos escuros

Pegou o comprimido para dor. Sentia muita dor no peito, talvez passasse. O colocou vagarosamente na boca. Para ajudar a engolir, Absinto, com três cubos de açúcar dentro.
Viu o porta retratos refletido no copo. Andou até a mesa, olhou para a foto. Os dois sorriam, era um dia ensolarado.
"Acabou", murmurou.
Foto e porta retrato voaram até a parede. Ela se abaixou, pegou os pedaços de vidro que restaram e pensou que nada mais se colaria dali em diante. Rasgou a foto.
Havia desaprendido a se comunicar. Nada mais fazia sentido. As pessoas falavam, falavam e ela não acreditava em mais nada. Todos os sonhos, todas as vezes que acreditou na bondade dos outros, todas as vezes que teve esperança, tudo tinha voado pela janela ou saído na sacola com as coisas dele.
Finalmente ela tinha aprendido o que ele tentou ensinar a ela por todos esses anos: "As pessoas são capazes de tudo. Principalmente das coisas ruins". Não é isso? Pois bem, ela aprendeu a dureza do coração de algumas pessoas.
Colocou os óculos escuros, com eles se sentia invisível. Desceu pelas escadas e ganhou as ruas.

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