terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A loja de biografias

Um amigo me contou, e jurou que era verdade, que em sua última viagem a Bolívia encontrou uma loja de biografias. É isso mesmo, eles vendiam biografias. Mas não dessas feitas contando o que já passou na vida das pessoas. Essas eram escritas sobre o futuro.
Ele me disse que a loja era até muito freqüentada. E que no fim de ano, quando as pessoas repensam tudo o que se passou para planejar o próximo ano, a loja fervia de gente. Ele jurou que viu até uma fila na porta. Gente com imensos livros à espera de alguém que lhes escrevesse a biografia.
Parece que funcionava assim: biografias escritas com calma, pensadas e planejadas podiam ser bimestrais ou semestrais. Havia uns mais afoitos que queriam escrever a vida toda de uma única vez. Outros, uma turma ali do meio, preferia escrever de ano em ano.
Dizem que o dono da loja aprendeu essa magia com os índios e depois de anos de estudo a transformou em ciência com patente e tudo. Um jeito fácil para ajudar quem não sabe o que quer da vida ou então, apenas dar uma mãozinha aos mais prevenidos.
Ah, já ia me esquecendo. Meu amigo disse também que o que era escrito acontecia. A vida seguia à risca o que estava na biografia. Assim, mocinhas que sonhavam com um grande amor pediam para que fosse escrito nos livros como iriam encontrá-lo meio sem querer numa paisagem linda, num dia ensolarado, no dia em que ele ia se apaixonar perdidamente (e à primeira vista) por ela.
Outras pessoas queriam mesmo é ficar ricas. Daí, bolavam jeitos e jeitos para isso. Algumas ganhavam na loteria, havia aquelas que recebiam heranças distantes e perdidas de parentes que nem conheciam e outras pediam para trabalhar um pouquinho em algo rentável, que é pra dar mais valor ao dinheiro.
Diz até que uns depressivos pediam para ter coragem de suicidar. Doentes pediam curas. E os maltratados pelo coração queriam mesmo era dar uma lição em quem os havia deixado.
Agora meu amigo está pensando em abrir uma franquia da loja num shopping aqui da cidade. Será que a moda pega aqui também?
A propósito, Feliz Ano Novo! Vê se escreve sua vida direitinho no ano que vem!

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal!


Às vezes acho que somos muito hipócritas. É que com esse papo de que Natal é época de compaixão, de perdão e de amor, acabamos fingindo ser o que não fomos durante todo ano. Viramos a cara para os mendigos nas ruas, mas no Natal, vamos lá dar uma moedinha. Brigamos com os familiares, mas tudo se resolve quando no Natal compramos um presente. Ah, fazemos tantas coisas que são dignas de fazer corar qualquer cristão durante 11 meses, mas no 12º, tudo está esquecido e resolvido. Isso sem contar que o Papai Noel consumista tem mais destaque que Jesus Cristo no Natal.
Por tudo isso e muito mais, desejo pra você que o dia 25 de dezembro seja um dia comum de sua vida e que os outros 364 dias do ano sejam comemorados como o dia do nascimento de Jesus. Desejo menos egoísmo e mais sentimentos nobres. Desejo 2009 novo numa vida velha!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Teje preso, Seu mosquito!

Um homem entrou na Justiça pedindo indenização contra o Estado, a União e o Município por ter perdido o emprego porque ficou afastado do serviço por causa de uma dengue. Estado e a União alegaram que esse assunto é competência do município. Já o município se defendeu falando que como o homem mora na divisa de Goiânia com Trindade a cidade não pode pagar por isso, já que o mosquito pode não ser goianiense.
Pasmem, essa história é real. A audiência de conciliação (onde não ocorreu conciliação nenhuma) foi ontem. Não, isso não é uma piada. Não estou brincando!
Fiquei pensando como os advogados de Goiânia puderam apresentar isso como defesa!
A advogada do homem desempregado ainda curtiu durante a entrevista dizendo que eles não pediram o comprovante de endereço do mosquito.
Ficamos lá na TV confabulando hipóteses para o mosquito não identificado. A primeira foi que ele pode ser um morador de Trindade que trabalha em Goiânia. A segunda foi que ele é um devoto do Divino Pai Eterno que, morando em Goiânia, resolveu fazer uma visitinha ao outro município para pagar promessa. Mas a terceira hipótese foi a que intrigou a todos: E se os pais do mosquito não o registraram? Se é um mosquito indigente, como vamos achá-lo pra saber de quem é a responsabilidade da transmissão da doença?
Portanto, se você avistar um mosquito da dengue voando por aí, grite logo: “Teje, preso, Seu mosquito!”. Chame os agentes de saúde e peçam pra averiguar se foi ele quem picou o homem que perdeu o emprego.
Ah, um conselho muito importante: Se algum mosquito quiser te picar, não deixe antes que ele te mostre a identidade e o brevê (porque não é qualquer inseto que pode sair voando por aí sem autorização da prefeitura!).

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

De Papai Noel para Emilly

Olá, Emilly!
Fico muito feliz em saber que crianças como você ainda acreditam em Papai Noel. É que com essa época consumista, muitas crianças deixaram de acreditar na magia do Natal e hoje só pensam em dinheiro. Sabe Emilly, algumas crianças crescem e deixam de acreditar em coisas mágicas, como eu. Outras crescem e deixam de ser solidárias e ainda há aquelas que se tornam más. Crianças grandes e más são egoístas, não sabem perdoar, não sabem ajudar os outros sem que ganhem algo em troca, são corruptas, fingem que não vêem as misérias desse mundo, isso quando não colaboram para que o mundo se torne ainda pior.
Achei bonita essa sua idéia de montar uma ONG para ajudar menores que moram nas ruas. Talvez se cada um de nós fizesse a sua parte, teríamos um mundo melhor. E nem precisava fazer muita coisa grande, porque uma ONG deve dar trabalho, basta ajudar o vizinho do lado, ser mais paciente com o colega de trabalho, realizar alguma tarefa doméstica para ajudar a família, sorrir para uma pessoa triste ou até mesmo fazer uma doação para uma instituição de caridade.
Ah, Emilly, por que será que as crianças esquecem de algumas coisas quando crescem? Seria muito bom se as crianças continuassem puras de coração e não se deixassem influenciar por coisas nocivas. Não seria bom se só amadurecêssemos?
Quando você escreve na sua carta que sua mãe disse que tudo vai se resolver, acredite. Também acho que no futuro tudo vai dar certo. A nossa tendência é sempre evoluir, melhorarmos e aprimorarmos cada vez mais. E lembre-se que aprendemos muito com as coisas tristes da vida.
Querida Emilly, queria te pedir duas coisas. A primeira é que conserve essa sua bondade e a outra é que peça para que os seres humanos cuidem melhor do meio ambiente. É que o Pólo Norte está ficando muito quente!
Bjos,
Até o ano que vem!
Feliz Natal!
Papai Noel


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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Do "Será só imaginação?" para o mundo parte II

Mais uma vez um texto do "Será só imaginação?" ganha as páginas da Internet. Dessa vez foi a crítica sobre o espetáculo teatral 'A corrente de Eléia', da Cia. Ciclomáticos, do Rio de Janeiro.
Os Ciclomáticos postaram o texto "A tortura de Eléia" no blog deles.
Para conferir: http://osciclomaticos.blogspot.com/2008/12/uma-f-de-goinia-assiste-corrente-de.html

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

De Emilly para Papai Noel

Todos os anos os Correios disponibilizam cartas que crianças carentes mandam para o Papai Noel para que pessoas possam adotá-las e doar os presentes para elas. Esse ano decidi adotar uma dessas cartinhas, tinha dentro de mim que só adotaria uma carta que me emocionasse. Entre crianças que pediam bolas, carrinhos de controle remoto, Barbies, bicicletas, televisores e até mesmo geladeira, achei uma linda, que transcrevo exatamente como foi escrita (até mesmo com os erros ortográficos):

“Oi Papai Noel. Mi chamo Emilly Gabrielly Ribeiro Gomes gosto muito de estudar de brincar afinal como todas as crianças para um dia ser bastante rica para dar uma casa própria para minha mãe. E fazer uma ong para tirar todas as crianças que vivem na rua e dar uma moradia.
E agora vou contar um pouco da minha história moro com minha mãe meu padrasto três irmãos de consideração que são os filhos do meu padrasto e tenho uma irmãzinha de verdade que mi faz dar boas gargalhadas.
Papai Noel estou escrevendo essa carta porque no ano que vem minha mãe não vai poder mi dar o que eu vou pedir porque ela é manicure e meu padrasto está dezempregado e estamos passando algumas dificuldades más minha mãe disse que tudo vai se resolver.
Por isso gostaria de ganhar um estojo com lapis de cor e canetinha um lapis de escrever algumas canetas borrachas tintas um pincel régua e um apontador e uma cola é claro se não for pidir demais ficarei muito agradecida para que possa colorir meus dezenhos e escrever bastante e no futuro ser uma grande advogada.
Feliz Natal
Beijo”.

Quem quiser adotar uma cartinha pode ir à agência central dos Correios, que fica na Praça Cívica, até o dia 18.

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um quadro na cozinha de casa

Li certa vez, não me lembro mais onde, que dois ladrões roubaram um quadro famoso de uma galeria. Na hora de repassar a pintura, o comprador internacional desistiu. Com a polícia internacional atrás da obra, um dos assaltantes teve que ficar com a tela em casa.
Assim, ele, não tendo outro lugar para a pendurar, colocou a pintura na cozinha da casa, perto do fogão. A mulher do bandido odiou aquela história. Achava o quadro horroroso. Desconhecia o valor artístico da obra e só via naquela tela um amontoado de tintas sem sentido.
Tempos depois, após uma denúncia, a polícia descobriu o paradeiro do quadro. A mulher ficou aliviada por levarem aquela coisa horrível que deixava feia a cozinha dela.
No domingo acordei pensando nessa história. É que muitas vezes tratamos as pessoas como a dona de casa fez com o quadro. Ela tinha algo com um valor enorme (não só materialmente, mas um valor artístico e histórico) mas não soube reconhecer. Para ela, a pintura que tinha sido tirada de um museu em que todos a admiravam era apenas um amontoado de tintas.
A mulher não tinha os sentimentos refinados para apreciar uma obra ou apenas tinha uma resistência a aceitar algo novo na vida dela. Mais do que isso, além de não dar a importância devida à tela, ela a engordurou toda com os vapores e respingos do fogão. Aquela obra foi danificada apenas porque alguém não a soube olhar.
Muitas vezes não damos a atenção devida às pessoas que estão do nosso lado. Deixamos de ver nelas coisas boas e, ou estamos perdidos demais em nós mesmo pra enxergar, ou simplesmente não queremos dar o valor que elas realmente têm.

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Do "Será só imaginação?" para o mundo

Tudo bem, tudo bem, para o mundo é um pouco de exagero! Do "Será só imaginação?" para outros sites: o texto "E você, já matou alguém hoje?" está na seção 'Boca Livre', do site 'Pauta Goiás', uma página da net voltada para jornalistas.
Para quem quiser conferir: www.pautagoias.com.br

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Voar


Foto: Divulgação


Um homem que sabe voar; outro homem acha uma pedra no rio que é capaz de comprar qualquer cidade; um outro que não aparece em cena, mas que está lá, perguntando e ouvindo a resposta; outros homens na platéia.
Voar, assim como quem abre as asas e plana sobre o Cerrado. Voar, assim como quem dá um rasante e vê de perto quem habita essa terra de árvores esparsas e retorcidas. E é assim, como pássaros que observamos a interpretação de Marcos Fayad na peça “Voar”, uma adaptação de textos de Gil Perini.
Atuação brilhante de Fayad. Um homem feio, caolho, desdentado, enrolado em uma colcha de retalhos, calça rasgada, camisa de manga longa e chapéu. Uma dessas figuras que quem conviveu com gente da roça deve ter visto inúmeras vezes. Homens humildes, cheios de histórias fantásticas (que juram que são verdadeiras) e um imenso amor à vida simples e ao Cerrado.
Uma fogueira, uma árvore, um banco, um interlocutor imaginário e alguns causos, assim é o monólogo “Voar”. A poesia do Cerrado de forma simples. O homem do campo começa a narrativa pela história de um amigo, que sabia voar e que um dia, havia jurado que lá de cima viu borboletas só de uma asa e que para continuarem vivas se abraçavam e batiam as asas juntas, como se fossem uma só.
Mas ele não está lá só para falar do amigo. Há também a própria história. Um dia, quando estava na beira do rio ele viu uma pedra, que brilhava como o sol. Um brilho que ofuscava as vistas e que se revelou um diamante tão grande quanto um ovo de galinha.
O que fazer com o achado? O homem do Cerrado começou a pensar como um doido em tudo o que aquela pedra podia lhe trazer: a bicicleta que não teve na infância e até mesmo a carne que era artigo de luxo e que, quando criança, desejava comer sempre e poucas vezes tinha no prato. Dos sonhos pequenos aos sonhos grandes: fazendas, casas, até uma cidade inteira.
Então, pensou que perderia o sono, o sossego e ganharia preocupações que só o dinheiro pode trazer. Perderia o cantinho em que sempre morou, o canto dos pássaros, as árvores e os caminhos que conhecia até mesmo com o olho fechado. Ganharia as preocupações do mundo.
O que fazer com o diamante? Qual caminho traçar?
“Voar” é uma bela história, que valoriza as nossas raízes, nossa gente humilde, nossas histórias. Marcos Fayad interpreta um homem de fala mansa, com sotaque carregado, que fala errado, mas que traz pureza no coração.
O cenário é simples e ao mesmo tempo lindo. Uma preciosidade de quem entende que menos pode ser mais: uma árvore feita com lascas de madeira, uma fogueira, um banquinho e um círculo feito de folhas secas. Assim é “Voar”.

A peça “Voar”, da Cia. de Teatro Martim Cererê, com direção e interpretação de Marcos Fayad esteve em cartaz no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro nos dias 29 e 30 de novembro.

Para ler: O Pequeno Livro de Contos do Cerrado, de Gil Perini.

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