quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Calendário


Eu sei, ficar aqui olhando pro calendário não vai adiantar. Contar os dias até que as páginas fiquem rotas não vai estreitar esse distância chamada tempo.
Bom seria se eu pudesse pegar os dias do calendário como quem pega contas de um rosário. Eu bem que colocaria o dia 14 bem pertinho do dia 30. E se não bastasse essa peraltice, emendaria julho com setembro. E possuída de uma ousadia sem tamanho eu rasgaria algumas datas e pularia da Independência até o Natal. Só pra te ver.


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domingo, 4 de dezembro de 2011

Das coisas simples

Estava pensando que quando se é mais novo a gente espera demais das coisas. Não nos contentamos com um romance, queremos O romance. Daqueles parecidos com novela, com direito a antagonista, clímax e é claro, final feliz. Mas não pode ser nada facinho ou não tem graça. Imagine um romance sem litros de lágrimas derramadas, um obstáculo praticamente impossível e depois é claro, a recompensa. Não dá, né?
Pense numa história que começa com João que conhece Maria, se apaixonam, namoram, casam e tem filhos. O que esse povo vai contar pros filhos, pras vizinhas fofoqueiras, não vai nem virar tema de novela! Não teve uma traição, uma separação inesperada, uma prima invejosa que tentou roubar o namorado, uma doença incurável ou qualquer coisa parecida. Sem graça, né?
E a rotina? Ninguém pensa nas contas pra pagar, no cachorro que teima em fazer xixi dentro de casa, no filho doente, em comer arroz com feijão com o mesmo tempero todo dia. Queremos sexo diário e selvagem, com direito a cinta liga voando pela janela pra matar os vizinhos de inveja, com muito barulho e posições do kama sutra.
No trabalho também queremos ser os melhores. Nem é fazer o melhor trabalho, mas ser o melhor, o queridinho do chefe, o comentado e aplaudido pelos colegas, o ganhador de prêmios e mais prêmios.
Mas hoje em dia tenho achado essas ideias tão megalomaníacas. Parece que buscamos o inalcançável e esquecemos de cuidar do presente ou, ainda pior, achamos ruim aquilo que o dia a dia nos oferece. Como se fosse tudo muito pouco.
E aí a gente esquece que nossa vida não é novela, que não tem que ter fortes emoções em cada capítulo. Esquecemos que só vamos ter um grande amor se ele começar pequeno, que só vamos ser os melhores no trabalho se nos esforçarmos pra isso, e por aí vai. Não dá pra comer caviar todos os dias.
Estou cansada de esperar a recompensa que nunca vem. E ela não vem justamente porque a projeção era alta demais. Achamos que vamos mudar os outros pra que o final seja o nosso final feliz, ou que um dia nossa vida vai sofrer uma reviravolta e vai nos oferecer exatamente aquilo que achamos que merecemos, mesmo que seja demais.
Tenho pensado muito no básico, no que pra muitos é pouco. Um dia João e Maria se conheceram, como quem não quer nada. Ficaram amigos, se apaixonaram, namoraram, casaram, comem arroz com feijão com o mesmo tempero todos os dias, tiveram filhos e cantam pra eles ao anoitecer, não são celebridades, brigam com as crianças quando necessário, nunca posaram nus, juntam dinheiro para comprar uma casa, realizam o trabalho da melhor forma possível, dormem de conchinha, não ganham rios de dinheiro no fim do mês, são companheiros, deixam bilhetes carinhosos na porta da geladeira, não fizeram lipo ou colocaram silicone e riem das mesmas piadas, não necessariamente nessa ordem.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Desarme-se

- Você só briga comigo!
- E tem como abraçar um porco espinho?!

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Até tu, Brutus?

Sempre gostei muito de algumas frases históricas, dessas ditas no passado e que ecoam mesmo depois de tanto tempo. "Se vocês não tem pão, que comam brioche!", dita por Maria Antonieta, rainha da França que achava que existia a opção brioche para os esfomeados plebeus. "L'état c'est moi" (O estado sou eu), proferida pelo rei Luiz XIV, também da França, no seu arroubo absolutista.
Mas de todas as frases que guardo na memória desde o meu tempo de estudante, a que mais tem me tocado ultimamente é "Até tu, Brutus?". Essa foi dita pelo imperador romano Júlio César. Vítima de uma conspiração de senadores, ele foi atacado e apunhalado. Entre os algozes do imperador estava Brutos, seu filho adotivo.
Fico imaginando a decepção de Júlio César. Não eram apenas conspiradores, dentre eles estava o próprio filho, aquele que recebeu nos braços, criou, educou e dedicou-lhe se não amor, no mínimo um pouco de tempo.
Uma traição é um golpe duro, mas traição vinda daquele que você acreditava ser incapaz de fazer isso é mais que um soco no estômago, mais que um chute no saco, mais que um tapa na cara em público. É uma traição dupla. Primeiro pelo motivo pelo qual isso aconteceu e depois, e o pior, pelo fato de você não ter mais em quem confiar. O descrédito totalm, em relação aos seres humanos, se instala.
Às vezes confiamos nossos segredos a alguém e compartilhamos os atos comezinhos de nossas vidas a tal ponto que essa pessoa passa a ser muito importante pra gente. E aí começamos a achar que, por nos conhecer tão bem, por ter vivido tantas histórias conosco, esse outro vai cuidar da gente. Quando digo cuidar, não é no sentido de prover algo, mas de ter cuidado, de não machucar, de não magoar. Mas nem sempre a recíproca é verdadeira e é aí que vem a grande decepção.
Algumas pessoas, pensando apenas em si, agem sem considerar o mal que podem causar aos outros. Não precisa apunhar como Brutus. Mentiras, trapaças, descaso, indiferença, egoísmo são como apunhaladas, capazes de ferir qualquer coração que ama e, principalmente, confia.

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vingança

Depois de tanta indiferença, tanto amor não compartilhado, tantos convites recusados, tantos sonhos e desejos não realizados, decidiu fazer uma vingança: viveu feliz sem ele.

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Objetos

Trabalhando em um jornal policial, tenho percebido, com certo espanto, o crescimento de crimes chamados passionais. Crimes em que "mata-se por amor" (como se amor fosse isso). Hoje, mais uma vez tive que noticiar que uma mulher foi morta pelo ex-marido,inconformado com a separação.
Ela, como outras tantas mulheres que aparecem em nossos noticiários, foi
morta simplesmente porque disse não.
Estamos em uma época em que a mulher é tratada como objeto ou bicho, gostosa, potranca, cachorra, melancia, pera, minha, sempre minha. Objetos de desejo, levadas para a cama, usadas, descartadas depois. É assim mesmo, descartáveis.
O homem usa, se sacia e a mulher não tem direito nem de dar um basta em tudo isso. "Ah, tá, não me quer mais? Eu te mato!". Bem assim, como um copo de plástico que não tem mais serventia.
Jogada no lixo da indiferença, do ódio, da violência.
Estamos na época do tudo ou nada. Ou fica pra sempre (sob risco de apanhar ou morrer) ou não tem compromisso (o famoso ficar).
Relacionamentos saudáveis, nem pensar, né?
O homem tem que ter consciência, e isso parte de nós mulheres, de que somos seres humanos, dotados de sentimento e racionalidade. Temos direito de escolha, inclusive escolha de pararmos de ser uma estatística na matemática masculina: "Hoje peguei 5! Há há há", para delírio e gozo dos amigos. Não, aquela mulher não é mais um número,muito menos um órgão sexual ambulante, ela tem uma história, emoções, amigos, família e principalmente coração. E merecem respeito.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

No consultório médico

- Temos um quadro de apatia amorosa causada por inanição de amor.
- E isso é grave, doutor? Tem cura?
- Vou passar um remédio.
- Qual?
- Ele.
- Tem como manipular?


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