domingo, 4 de dezembro de 2011

Das coisas simples

Estava pensando que quando se é mais novo a gente espera demais das coisas. Não nos contentamos com um romance, queremos O romance. Daqueles parecidos com novela, com direito a antagonista, clímax e é claro, final feliz. Mas não pode ser nada facinho ou não tem graça. Imagine um romance sem litros de lágrimas derramadas, um obstáculo praticamente impossível e depois é claro, a recompensa. Não dá, né?
Pense numa história que começa com João que conhece Maria, se apaixonam, namoram, casam e tem filhos. O que esse povo vai contar pros filhos, pras vizinhas fofoqueiras, não vai nem virar tema de novela! Não teve uma traição, uma separação inesperada, uma prima invejosa que tentou roubar o namorado, uma doença incurável ou qualquer coisa parecida. Sem graça, né?
E a rotina? Ninguém pensa nas contas pra pagar, no cachorro que teima em fazer xixi dentro de casa, no filho doente, em comer arroz com feijão com o mesmo tempero todo dia. Queremos sexo diário e selvagem, com direito a cinta liga voando pela janela pra matar os vizinhos de inveja, com muito barulho e posições do kama sutra.
No trabalho também queremos ser os melhores. Nem é fazer o melhor trabalho, mas ser o melhor, o queridinho do chefe, o comentado e aplaudido pelos colegas, o ganhador de prêmios e mais prêmios.
Mas hoje em dia tenho achado essas ideias tão megalomaníacas. Parece que buscamos o inalcançável e esquecemos de cuidar do presente ou, ainda pior, achamos ruim aquilo que o dia a dia nos oferece. Como se fosse tudo muito pouco.
E aí a gente esquece que nossa vida não é novela, que não tem que ter fortes emoções em cada capítulo. Esquecemos que só vamos ter um grande amor se ele começar pequeno, que só vamos ser os melhores no trabalho se nos esforçarmos pra isso, e por aí vai. Não dá pra comer caviar todos os dias.
Estou cansada de esperar a recompensa que nunca vem. E ela não vem justamente porque a projeção era alta demais. Achamos que vamos mudar os outros pra que o final seja o nosso final feliz, ou que um dia nossa vida vai sofrer uma reviravolta e vai nos oferecer exatamente aquilo que achamos que merecemos, mesmo que seja demais.
Tenho pensado muito no básico, no que pra muitos é pouco. Um dia João e Maria se conheceram, como quem não quer nada. Ficaram amigos, se apaixonaram, namoraram, casaram, comem arroz com feijão com o mesmo tempero todos os dias, tiveram filhos e cantam pra eles ao anoitecer, não são celebridades, brigam com as crianças quando necessário, nunca posaram nus, juntam dinheiro para comprar uma casa, realizam o trabalho da melhor forma possível, dormem de conchinha, não ganham rios de dinheiro no fim do mês, são companheiros, deixam bilhetes carinhosos na porta da geladeira, não fizeram lipo ou colocaram silicone e riem das mesmas piadas, não necessariamente nessa ordem.

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