sábado, 11 de dezembro de 2010

A louca

Por que?, era o que mais se podia ouvir das palavras que lhe saiam da boca desesperada. Naquele dia ela gritou a casa sem móveis, a louça quebrada, o lustre sem lâmpada, a mancha no carpete novo. Ela não só gritou como arranhou o rosto, pintou as paredes e jogou tinta no vestido. Bailou sem música e rodopiou com os olhos de uma louca. Se despiu das sandálias e dos óculos, desfez o penteado.
Tudo porque ela não entendia o que lhe acontecia. O que teria feito? O que não? Será que já não era suficiente? Mas o tempo, ah o tempo, sempre lhe pedia mais e sempre lhe trazia menos. Logo ela que só queria um ombro para repousar a cabeça e uma mão para acolher a sua, tinha que ser forte. Tinha que demolir o mundo se preciso e reconstruí-lo inúmeras vezes, e de novo e de novo e de novo, até não se sabe quando.
E gritava e gritava e gritava. Até que sua úlcera estourou em dores, até que seus tímpanos não ouviam mais, até que o coração disparou, até que o mundo parou para ver o quanto lhe era injusto. E o grito virou uivo e as lágrimas soluços e nada nem ninguém podia consolá-la.
E todos aqueles que passaram por ela naquela manhã sentada ali na mesa do escritório não entenderam a razão dela estar tão quieta olhando para o horizonte. Tão silenciosa em meio a toda aquela gente.

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