segunda-feira, 1 de março de 2010

Samba lelê

Esse é meu primeiro post depois do acidente doméstico que sofri no dia 17 de fevereiro. Era uma madrugada chuvosa e eu levantei para fechar a janela da sala. Escorreguei na água que entrava por ela e cai. Bom, pelo menos acho que foi isso, já que não me lembro do que aconteceu.
É que bati a cabeça com força suficiente para me fazer esquecer dois dias antes do acidente (e o acidente também). A última coisa que me lembrava foi de ter visto um homem prateado (desses que pedem dinheiro no sinaleiro) bebendo cerveja num barzinho perto do shopping Flamboyant (também, quem esquece de uma cena dessas?).
Mesmo com a cabeça quebrada (uma espécie de Samba lelê como da música) consegui ligar para um amigo, pedir socorro e ainda abrir a porta do apartamento pra ele. Depois de passarmos por vários hospitais fomos parar no Hospital de Urgências de Goiânia, o Hugo. Lá descobriram um corte na minha cabeça que me rendeu oito pontos e uma clavícula quebrada.
O mais engraçado é que enquanto meus amigos estavam loucos de preocupação comigo, eu viajava. Nos meus delírios revi todas as cenas de filmes e peças de teatro que gosto. Eu via a artista mexicana Frida Kalo desenhando borboletas no gesso, logo depois entrava num túnel negro e via as ruas de Paris em “O fabuloso destino de Amelie Poulin”, aí eu pensava “será que ainda sei falar francês?”, mas não dava tempo de formular nenhuma frase no idioma porque eu já estava no Teatro Goiânia assistindo a peça “O Cabra que matou as cabras” e vendo o ator principal do espetáculo derrubando todas as luzes do palco, entrava de novo no túnel e via uma atriz mostrando os seios e brincando como se eles fossem olhos na peça “Preciso olhar”. Mas de repente eu voltava e estava no corredor de um hospital de frente para um homem todo machucado por causa de um acidente, mas eu não entendia a gravidade daquilo, parecia uma das imagens que edito no trabalho.
Isso sem contar nas inúmeras perguntas, quer dizer, nas algumas perguntas que fiz inúmeras vezes, tais como: Onde estou? O que aconteceu? Que horas são? ou O que o Lucas tem a ver com essa história? Eram perguntas que parece que não me davam resposta e então eu as repetia várias vezes sem ouvir o que me respondiam.
E assim eu fiquei um dia inteiro: doida doida. Depois de duas ressonâncias magnéticas que não deram nada, fui liberada para ir para casa e proibida pelo enfermeiro de deixar a janela aberta durante a noite!
O engraçado é que podia ter morrido, visto que minha janela não tem grades (o que já está sendo providenciado), mas eu não tive medo disso. Pra falar a verdade, ainda não tenho. Acho que tenho aproveitado bem a vida e não consegui lembrar de algo para me arrepender.
Ah, antes que me esqueça, a memória está voltando aos poucos!

E a propósito: Obrigada anjos (terrestres ou não) que me salvaram!

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5 comentários:

Júlia Mariano disse...

hahaha
Lembrei me de uma música chamada Angel City (que NÃO é a do filme cidade dos anjos). A música, do Warren Haynes diz: "here in angel city, there ain't enought angels to go around..." acho que ele se enganou... Brincadeirinha. Foi até divertido participar dessa loucura. Pena que não tive a idéia de usar um gravador ou uma polaroid (como em Amnésia) para nos auxiliar... beijoooo

Abilio Carrascal disse...

puxa vida!!!!

que idéia, Júlia... seria genial...

essa menininha ia pirar.... de tanto ver ela perguntar a mesma coisa...

Esperamos pela sua sanidade corporal, linda! Já que com a Sanidade mental, nunca pudemos contar, né? hihihihi.....

Dani Barbosa disse...

Bom saber que vc está bem amiga e de volta ao blog!
Nada de janela aberta a noite heim!
Beijos

Lian Tai disse...

Que coisa! Se cuida! Beijos!

alfacinha disse...

que relato