domingo, 25 de janeiro de 2009

Desprezo

Havia chegado o dia da condenação no Tribunal Máximo dos Crimes de Amor. Ela estava lá, parada de frente ao juiz esperando a sentença. E então, na boca dele se formou a pena que ela mais temia: Desprezo eterno por parte de qualquer ser vivente desta terra.
Pelo resto da vida estaria condenada a vagar sem que ninguém a pudesse tocar, sem que dirigissem sequer um sorriso a ela, não ouviria mais palavras. Ela ficou em choque. Aterrorizada pensou nos abraços que não sentiria mais, nas bocas que não conversariam, num simples aperto de mão. Ela que sempre foi dada a demonstrações de carinho.
Lembrou-se de quando era pequena e se sentia desprezada pela mãe. Lembrou-se das vezes que chorava pedindo atenção. E agora, tudo se repetiria.
Nos próximos anos vagou pela cidade. Quando tentava conversar com as pessoas era como se ela se dirigisse ao vento. Não mereceu mais um olhar dentro dos olhos. Nem uma conversa. Esqueceu-se como era sentir uma mão acariciando os cabelos dela.
Um dia, logo ao amanhecer, a encontraram no meio da praça. Um caco de vidro na mão, no pulso do outro lado o sangue jorrava em contraste com o branco da pele, ela olhava para aquilo tudo e parecia não estar nem alegre nem triste. Já era tarde demais.


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