segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pra não ganhar a caneta da prefeitura, resolvi estudar

Quando somos crianças, algumas pessoas são fundamentais para nos ajudar a desenhar o que seremos no futuro. São aquelas pessoas que nos mostram luzes lá no fundo e que vamos seguindo.
Alguém fundamental para que eu me tornasse o que sou hoje foi meu padrinho. Ex-piloto de aviões, aposentado depois de caiu no mar, apaixonado por livros e principalmente a pessoa mais excêntrica que conheci na vida.
Meu padrinho tinha os cabelos grisalhos, usava óculos de massa (numa época em que isso não era moda) e vestia camisas que variavam de cinza à azul claro.
Sempre que eu chegava na casa dele (uma das maiores casas que entrei na minha infância) curiosamente ele estava no banho. Era muito divertido. Ele passava horas debaixo do chuveiro cantando óperas na maior altura possível e sem se incomodar com as visitas. Eu não entendia direito que gritaria era aquela, mas gostava.
Enquanto minha madrinha se ocupava em me dar bonecas, ele me apresentava a leitura. Mesmo quando eu mal sabia ler, ele já fazia assinaturas de revistas infantis pra mim. Uma revista divertida chamada “Nosso Amiguinho”, com histórias, brincadeiras, coisas para pintar, colar e recortar.
Era ele também que se impressionava com os desenhos que eu fazia aos três anos de idade. Para ele, eu deveria ser matriculada imediatamente numa escola de artes e viraria um gênio das artes plásticas!
Mas a cartada fatal veio quando eu estava no segundo ano do Jardim da Infância. Um dia a professora brigou comigo e eu decidi parar de estudar (no auge da minha rebeldia de quatro anos de idade). Meu padrinho, implacável, veio me dizer que se eu não estudasse eu ia ganhar a caneta da prefeitura. Caneta da prefeitura?! É, a vassoura usada pelos garis para varrer as ruas. E assim eu passaria todos os dias da minha longa vida limpando as ruas de Goiás.
Preferi voltar pra escola...

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