segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Palavras e silêncio

Palavra: 1. Fonema ou grupo de fonemas com uma significação; termo, vocabulário. 2. Sua representação gráfica. 3. Manifestação verbal ou escrita. 4. Faculdade de expressar ideias por meio de sons articulados; fala. 5. Modo de falar.

Mas e quando esvaziamos esses significados? Quando usamos uma palavra quando na verdade queremos expressar exatamente o contrário? E quando simplesmente não dizemos com medo do que o outro vai pensar?
Muitas vezes temos medo das palavras e da força que elas podem ganhar, aí, simplesmente não dizemos. Temos apenas como resposta: “Não posso responder...”, isso quando há resposta. Às vezes o silêncio impera mesmo quando temos o que dizer. Mas é mais cômodo e menos perigoso não falar. É que quem não se fala não se arrisca, não se arrepende depois, não deve prestar contas do que foi dito, não se culpa e não teme.
E assim vamos ficando com perguntas no ar. Frases não ditas e silêncios cada vez mais prolongados. Certa vez, conheci um homem que mesmo depois de cinco anos de namoro não dizia eu te amo para a namorada. “Ela vai se achar se eu disser”. O que ele não podia ver é que na verdade ela ia deixar de achar e ter certeza se ele falasse.
Há também aquele silêncio que incomoda. Não há nada que incomode mais do que o silêncio quando você quer ouvir tudo: bom ou ruim, mas que deve ser dito. É melhor ouvir algo não agradável do que a indiferença. Certa vez escrevi um e-mail muito importante para mim, esperei semanas pela resposta, dia após dia eu conferia minuciosamente e ansiosamente minha caixa de e-mails, mas a resposta nunca veio. Tive que escutar tempos depois: “Não posso responder seu e-mail”. Eu preferia um “não” a essa resposta que não define nada e que dá muitas margens de interpretação.
Mas o que realmente tem me deixado encabulada nos últimos tempos é a capacidade que nós seres humanos temos de usar palavras estéreis.

Estéril: 1. Que não produz; infecundo, ingrato, sáfaro. 2. Em que não se produz ou não se realizou.

Palavras estéreis são aquelas que não frutificam e que acabam no mesmo instante em que são ditas. São amontoados de “eu te amo”, “querido”, “amiga”, “te perdoo”, “desculpa”, “não farei mais isso”, “meu anjo”, “meu coração” e tantas outras coisas que não vão além disso: de palavras. Sem significado verdadeiro, ditas para não serem mais lembradas, esvaziadas de todo o sentido que deveriam ter. Palavras que se contradizem com as ações e os sentimentos.
Não é preciso dizer que ama quando não se ama, nem dizer que está com saudades se não está. Nem é necessário pedir desculpas se realmente não se sente arrependido e se vai fazer tudo aquilo de novo. Não há porque falar sim quando se quer falar não e também não precisa ser o contrário.
As palavras mais bonitas que já ouvi saíram dos olhos de pessoas que me amavam, de pequenos gestos de carinho do dia a dia e as mais estéreis vieram cobertas por lindos sons articulados. É, são assim essas coisas que chamamos de palavras....

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Um comentário:

Unknown disse...

As palavras por mim ditas em formas de articulações labiais ou em forma de gestos se enquadram nas das pessoas que te amam, dia após dia. Beijos. Ní