terça-feira, 7 de julho de 2009

Efêmero

Para as minhas inquietações e perguntas do último post recebi algumas respostas por e-mail ou aqui mesmo no blog. Alguns se limitaram a se solidarizar comigo, outros arriscaram responder, alguns disseram também se perguntar as mesmas coisas. Há ainda aqueles que compartilharam experiências. Outros me disseram que nunca vou encontrar essas respostas. Uma contribuição muito importante foi da Lian, que me falou sobre o texto "Por um casamento", de Rubem Alves. Ele diz: " Sentimentos não podem ser prometidos. Não podem ser prometidos porque não dependem da nossa vontade. Sua existência é efêmera. Só existem no momento.".
Reproduzo aqui uma das duas versões que achei do texto:

Por um Casamento (Rubem Alves)


Escrevo hoje para os que casam, por medo de que, fascinados pelo rito do casamento, se esqueçam de um outro rito importante.
O primeiro rito nasceu de uma mistura de alegria e tristeza.
A definição mais precisa deste rito, eu a ouvi da boca de um sacerdote: ‘Não é o amor que faz um casamento", disse ele, "são as promessas".
Assustei-me. Mas sabia que assim era, no civil, casamento-contrato, rito frio da sociedade, para definir os deveres e a partilha dos bens e dos males.
Sociedade é coisa sólida. Precisa de pedra, ferro e cimento. Garantias.
Para isso os contratos. E a substância dos contratos são as promessas.
Ele estava certo. "Não é o amor que faz o casamento. São as promessas".
Muitas são as promessas que os noivos podem fazer: prometo protegê-la, prometo cuidar de você na doença, prometo não humilhá-lo, prometo não maltratá-la, prometo dividir os meus bens. Atos exteriores podem ser prometidos.
Assim se fazem os casamentos: com pedra, cimento e ferro. Mas as coisas do amor não podem ser prometidas.
Não posso prometer que, pelo resto de minha vida, sorrirei de alegria ao ouvir o seu nome. Não posso prometer que, pelo resto de minha vida, sentirei saudades na tua ausência.
Sentimentos não podem ser prometidos. Não podem ser prometidos porque não dependem da nossa vontade. Sua existência é efêmera. Só existem no momento.
O outro ritual se faz com o vôo das aves, com a água, espuma e bolhas de sabão.
Secreto, para ele não há convites. Não precisa de altares.
Secreto foi o casamento de Abelardo e Heloísa, o mais belo amor jamais vivido ( proibido ).
Não há convites, nem lugar certo, nem hora marcada: simplesmente acontece.
"Amor é dado de graça / é semeado no vento / na cachoeira / no eclipse..." (Drummond ).
"Como é formosa, como és formosa! Há mel em tua boca". ‘"O teu rosto é um canteiro de bálsamo e os teus lábios são lírios..." ( Bíblia Sagrada )
"Eu sei que vou te amar / por toda a minha vida eu vou te amar / em cada despedida eu vou te amar / desesperadamente eu sei que vou te amar..." ( Vinicius ).
Que o sorriso de um seja, para outro, festa, mel, doce de coco, peixe assado, onda salgada do mar..
Que as palavras do outro sejam tecido branco, vestido transparente de alegria, a ser despido por sutil encantamento...

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