segunda-feira, 28 de julho de 2008

O mundo é grande

Foto: Mayara Vila Boa


“O mundo é grande
Para nossos desencontros”

É sempre muito bom viajar e esse fim de semana voltei a um lugar que gosto muito: Chapada dos Veadeiros. Quando chegamos, eu e meus amigos fomos ao Vale da Lua. Quando estávamos descendo a trilha, olhei para cima e fiquei maravilhada. Vi uma serra, mas era uma serra tão grande, tão alta. Eu me senti tão pequena olhando pra aquilo ali na minha frente. E aquela visão me acalmou. Naquela hora eu me senti insignificante, como se ninguém precisasse de mim. E, ao mesmo tempo eu me sentia parte de um todo muito maior. Era como se eu fosse uma pequenina parte de tudo aquilo de que é feito o mundo. Me senti inserida em algo muito maior do que a minha pequenina vida. Uma calma foi invadindo a minha alma e uma certeza de que tudo vai dar certo.
O Vale da Lua tem umas rochas que parecem crateras lunares. Ficamos andando em cima das pedras e entre uma fenda e outra, dava para ver a água correndo lá em baixo. A mesma água que ajudou a abrir buracos nas pedras sempre arruma um jeito de seguir seu curso. Olhava aquilo e pensava o quanto as coisas são maravilhosas.

“A arte é longa
A vida breve e fim”

Ficamos hospedados na vila de São Jorge. 600 habitantes, ruas de terra e lugar de encontro de pessoas de diferentes estilos, desde ricos que chegam de helicóptero à hippes que dormem em barracas. Era lá que estava acontecendo o VIII Festival de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.
O Festival é algo riquíssimo para que possamos entender nossas origens e raízes. No palco não se apresentam artistas famosos, mas grandes artistas: comunidades que preservam traços de cultura popular. Kalungas, índios, Irmandades, homens e mulheres da lida, da roça, de pequenos povoados. Batuques, catiras, canções de folia, Coco, viola. Cores, muitas cores em cena. Gente que reza cantando, gente que canta pra manter a tradição, gente que teatraliza coisas que aconteceram há tempos, como a guerra entre mouros e cristãos. Velhos e jovens todos juntos.

“Mas como pode um mar assim tão grande
Caber num mundo tão pequeno assim”

Fomos visitar o parque da Chapada dos Veadeiros e durante todo o trajeto, não conseguia parar de pensar numa música chamada “Artelonga”, cantada pelo Geraldo Azevedo. Ficava pensando em como podem belezas tão lindas como as da reserva caberem num mundo tão pequeno assim. Cachoeiras, vales, serras, corredeiras, flores, árvores... Tivemos uma aula de geografia e história dada pelo nosso guia enquanto andávamos 9 quilômetros. Pangéia , colonização do Cerrado, causos locais. Fiquei impressionada com a história de um guia que foi salvar uma menininha que foi arrastada por uma tromba d’água e morreu afogado. Outra coisa que me chamou a atenção foi o preço que eram vendidos os cristais quando lá ainda era um garimpo. Fiquei pensando em como o ser humano não dá valor às coisas belas da vida.

“Meu violão não pesa muito
Carrega tantas canções”

Noite. Mais apresentações. Acho que o mais importante e o que mais gostava era de ficar olhando para o rosto das pessoas enquanto estavam no palco. Era o dia de glória daqueles que geralmente ficam esquecidas. Gente humilde que provavelmente poucas chances teve de sair de sua comunidade e, que agora se apresenta diante de uma platéia que assiste atenta e se delicia com tudo o que eles têm pra nos mostrar. Nisso tudo, um senhor me chamou a atenção, ele cantava com os olhos fechados, chapéu apertado contra o peito. Parecia que ele não cantava pra gente, mas para o céu...

“Fico pensando se um amor dos grandes
Pode habitar pequenos corações”

Tudo correu bem em São Jorge. Só um velho é que morreu engasgado com biscoito! Mas isso foi só para rimar com oito numa música do Pereira da Viola. E por falar nele, que cantor! Muito bom. Entre músicas e poesias fez meu coração bater mais forte. Em determinado momento do show, ele recitou versos que ele atribuiu ao poeta João. Neles, ele dizia que o amor é como um pássaro que voa, voa livre. E logo mais ele emendou outra em que dizia que o amor é como as asas de um pássaro, enquanto uma fica, a outra voa, livre sem destino certo. Fiquei pensando no presente. E todo o público terminou a noite dançando de mãos dadas em uma grande roda.

“Meu sapato carregado de distâncias
O meu chapéu de sonhos sem fim
Fico pensando e por mais que eu ande
Eu não consigo me afastar de mim”


Música: Artelonga, de Renato Rocha e Geraldo Amaral.

3 comentários:

Unknown disse...

Mayara,

suas palavras me transportaram para São Jorge, me trazendo lembranças da primeira vez em que estivemos lá....
quanta energia boa...
beijos.... querida...


Renato Rodrigues "Simprão"

Renatim Pirei disse...

Você foge de mim... viaja para lugares distantes e tão belos. Quereria ao menos fazer parte de um mundo assim, tão, tão, tão... demais.

Beijos

Anônimo disse...

Nada se compara a São Jorge, que bom que faz parte de nossa terra. Espero ainda ter a oportunidade de conhecer.

Bejim,
Dulce