domingo, 3 de agosto de 2008

Faço-me saudade

Ontem assisti um espetáculo chamado Abrazos, da Cia. Teatral Martim Cererê. Era “um show musical sobre a alegria de ser brasileiro e latinoamericano”. Muito bom por sinal. Músicas que vão desde as modinhas aos tangos e textos muito bem escolhidos.
Como explica Marcos Fayad, as canções são como um abraço dado em toda a América Latina.
Os dois textos iniciais me marcaram muito. Ambos são do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Guardei bem esse nome para procurar depois na Internet e, para minha sorte, encontrei os dois textos tais como eu havia ouvido.

“- A uva - sussurou - é feita de vinho.
Marcela Pérez-Silva me contou isso, e eu pensei: se a uva é feita de vinho, talvez a gente seja as palavras que contam o que a gente é.” (A uva e o vinho, Eduardo Galeano)

Se a gente é feito de palavras, então, isso aqui é meu auto-retrato. Na verdade era essa a intenção mesmo.
Se hoje eu fosse uma palavra eu seria saudade.
“1. Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta. 2. Pesar pela ausência de alguém que nos é querido”. (Dicionário Aurélio).
Saudade com um abismo entre o S e o E. Saudade com o contorno das minhas letras redondas. Saudade com todas as sílabas.
Vi umas fotos suas, sonhei com você e deu saudade. Saudade de tudo aquilo que eu não vivi. Saudade das vezes que nos encontramos, dos nossos olhos fixos e abraços longos.

“Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou - Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos são bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar; e quem chega perto pega fogo.” (Eduardo Galeano).

Ainda me lembro da primeira vez que te vi. Peguei fogo. Aliás, na primeira, na segunda e até na terceira vez peguei fogo. Sempre pego. Não há como chegar perto de você sem que algo entre em combustão...


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Um comentário:

KK disse...

e a possibilidade de escolher outra fogueira, sentir algo mais além de saudade, mesmo que não seja tão quente, o que lhe parece?