quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sou a favor das Yang Peiyi da vida

Foto retirada do site da BBC

A chinesa Yang Peiyi, de sete anos, emprestou sua voz para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. No lugar da menina com dentes irregulares e gordinha, apareceu a magra e simpática Lin Miaoke, de nove anos, cantando em playback a música gravada por Yang. Motivo do feito (se é que podemos chamar assim): a comissão organizadora disse que precisavam de uma imagem perfeita para representar a China e que a imagem era de Lin e não de Yang. Leia-se nas entrelinhas: preconceito.
Sou a favor das Yang Peiyi da vida. Sou a favor das gordinhas, com dentes irregulares, com cabelos que não são lisos, das negras, das deficientes físicas, das que usam aparelho nos dentes. É que as pessoas ficam criando padrões fora do comum. Como se todas nós tivéssemos que ser iguais para ser bonitas. Daí, aparece toda essa histeria pelos padrões de beleza criados sei lá por quem!
De repente, parece que todo mundo tem que ser alta, magra, com bunda e seios grandes, cabelo liso, loira dinamarquesa. Hoje mesmo na academia, uma mulher, contava, indignada, que pagou mil e quinhentos reais em um tratamento contra estrias e não adiantou. E estria não faz parte do corpo da mulher?
É claro que não sou contra a vaidade. Sou contra os excessos. Sou contra esse militarismo do “eu tenho que ser perfeita”. Ninguém é e não seremos nunca, mesmo depois de quinhentas plásticas e mil regimes.
Acho ainda mais cruel quando o militarismo do “eu tenho que ser perfeita” é usado com crianças. E olha que quem está falando é alguém que sentiu na pele isso. Fui gordinha a minha infância inteira, até minha pré-adolescência. Com 11 anos eu pesava 60 quilos. E, desde bem pequena até essa idade, que foi quando eu emagreci com dieta e exercícios físicos, me lembro de pessoas zombando de mim porque era gorda.
Me sentia massacrada cada vez que alguém, principalmente da família, me discriminava. Ainda me lembro da minha irmã e de minhas primas, todas lindas e magras, me chamando de elefante, baleia, gorda e todas essas coisas que derrubam a auto-estima de qualquer um! Demorou muito para eu me perceber como realmente sou hoje. Por isso, fico imaginando como estará a pequena Yang Peiyi depois de não aparecer na abertura dos Jogos Olímpicos porque não se encaixa em um padrão de beleza que não foi ela quem criou.
Sou a favor das Yang Peiyi da vida. De pessoas comuns, como eu e você.



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Um comentário:

Anônimo disse...

Esse padrão de beleza massacra não apenas quem sofre com o desprezo, mas também quem se ilude em buscar a felicidade sentimental se relacionando apenas com um companheir(a) que se encaixe no padrão estabelecido.
Isso tem destruido familias, acabado com casamentos, e enricado as mulheres frutas da vida.
Que bom você tem enxergado e vivido o que realmente você é, linda e inteligente, sem se preocupar com os padrões, mas ao contrário questioná-los e transcreve-los em seu blog, que está ótimo e provoca nossa reflexão.