sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A tortura de Eléia


Foto: Divulgação da Peça
Mais uma vez Os Ciclomáticos esteve na capital para participar do Goiânia em Cena. Esse ano o grupo carioca apresentou “A corrente de Eléia”, com direção de Ribamar Ribeiro. A peça fala sobre tortura.
Eléia foi torturada durante a Ditadura Militar. Agora, ela sofre um outro tipo de tortura: aquela dos que não conseguem esquecer. Ela e o marido vivem afastados da cidade e ela tem medo de tudo, até mesmo dos que batem na porta.
E é pela porta que entra o fantasma de Eléia. O ex-torturador está ali ao seu alcance. Será realidade ou mais um dos pesadelos da ex-torturada? Luzes acendem e se apagam, barulho, muito barulho, Eléia gira frenética em torno das grades que a prendem, gritos.
- Posso lhe chamar de senhora ou seria muito enigmático?, é a frase que a faz reconhecer o antigo carrasco.
- Posso lhe chamar de senhora ou seria muito enigmático? Posso lhe chamar de senhora ou seria muito enigmático?
Eléia sucumbe. Começa a relembrar os Anos de Chumbo. Como foi arrancada de casa, assim como num aborto, a mãe gritando. As torturas, a gota d’água que era o único barulho que ouvia na cela. Chutes, muros, estupro, como arrancaram suas unhas. A dignidade humana reduzida a uma mulher que come a comida cuspida da boca do carrasco.
- Eléia, acorda! Eléia, acorda!, o marido grita do lado de fora da cela.
Realidade ou pesadelo? Será que as correntes que prendem Eléia são psicológicas ou ainda estão nos pés dela?
Para montar “A corrente de Eléia” Os Ciclomáticos tiveram ajuda do grupo Tortura nunca Mais, do Rio de Janeiro. Talvez, por isso, o ambiente do espetáculo seja tão perturbador. Tudo incomoda, também sofremos com Eléia. Os ruídos, a gota de água que não pára de pingar, as sessões de tortura, muito realista.
O cenário é uma grade em forma de círculo. Dentro há escadas móveis e ainda uma parte elevada onde a mulher se senta de vez em quando. O que desfavorece é a proximidade com o público que, no Martim Cererê, teve que se contorcer para ver as cenas que eram feitas no chão.
Os atores Fernanda Dias, Renato Neves e Júlio César Ferreira se mostraram muito bem afinados em suas atuações. Realmente conseguem passar os horrores vividos por quem foi torturado.

Curiosidades:
* O filósofo Zenão de Eléia (considerado o criador da Dialética) viveu na cidade de Eléia entre 464/461 a.C. Por conspirar contra o governo, ele foi torturado e morto, já que não revelou os nomes de seus comparsas.
* Os Ciclomáticos apresentaram “Sobre Mentiras e Segredos” em 2007 no Goiânia em Cena.



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3 comentários:

patriciatriers disse...

Oi, Mayara!!
Dê uma olhada tbem no meu blogger!
Coloque-o aí na sua lista de favoritos! Coloquei o seu! Aí a gente passa a trocar figurinhas aqui!! Beijos!!

Anônimo disse...

Meu amor, vc valoriza todas as pessoas que fazem a peça. Tudo porque seu coração é puro...Parabéns!
Outra coisa: senti como se estivesse assistindo a apresentação. Obrigada por acrescentar valores a minha vida.
Marilena

Anônimo disse...

Olá Mayara. Sou Ribamar Ribeiro, autor e diretor de Os Ciclomáticos Companhia de Teatro e autor dos textos: A Corrente de Eléia e Sobre Mentiras e Segredos. Muito agradecido por seus comentários e postarei também em meu blog. Dê uma passadinha lá para conhecer mas da história da companhia. Foi emocionante se apresentar em Goiânia novamente e este tive a oportunidade de ficar 10 dias nesta cidade linda! Acesse: www.ribaribeiro.com e www.osciclomaticos.blogspot.com