sábado, 18 de julho de 2009

A carta

Seu Cartero, faz o favor de intrega essa carta pro Zé, meu marido. É qui ele foi pra São Paulo trabaia i nunca mais qui vorto. O Mané da venda disse qui São Paulo é uma cidade grande, mas acho qui num há de se difícil acha ele. Aqui ele é conhecido como Zé das Onça, tem o cabelo e os olho preto, num é nem muito arto, nem muito baxo e é muito bão na inchada. Num há di se difícil de achá, é só perguntá pelo marido da Rosinha, filha do Artino. Ele é cunversadô e o povo logo há de sabe quem é.
Muito agradecida,
Rosinha

A carta...

Zé,
Hoje faz 4 ano que ocê foi praí e nunca mais deu nutícia. Fico aqui rezando pra ocê num tê se perdido nesse mudareu de rua que diz que é essa cidade. Escrevo procê pra dizê que os minino tão bem.
O Bentinho tá trabalhano na roça do Nicolau, monta a cavalo bem qui nem ocê. O Chico aprendeu umas moda de viola naquela sua viola velha e anda por aí contano qui nem passarim. Esses dias vei um circo aí na vila e a Ritinha quase morreu de alegria quando viu aquela mulher que balanga lá no arto. A Ritinha, aquela boba, inté choro de alegria, achano que a moça fazia era vua.
Mas o que eu queria memo é pergunta procê se ocê num senti sardade. Sardade do arroz cum piqui, do frango cum milho, da pamonha nos dia frio, do leite quente que eu esquantava procê todo dia cedo, das nossa mão dada na hora de drumi. Eu quiria era sabe se ocê ainda pensa ni mim.
Fica cum Deus,
Rosinha.

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2 comentários:

Lian Tai disse...

Lindo...

Kheyla disse...

Adorei...é como a Oração do Matuto, uma texto lindo demais, que também relembra a vida na roça..a simplicidade das pessoas desse mundo..isso nos faz pensar que o progresso é maravilhoso por um lado, mas por outro tira todo esse encantamento, essa " pureza " do coração das pessoas... Bjs!