sábado, 23 de agosto de 2008

Transformem a ópera numa peça teatral pelo bem do público!

Sábado, 23 de agosto e acabo de chegar de uma peça teatral chamada “Ópera Cínica”. Se tivesse mais dinheiro, teria ido ver “Às favas com os escrúpulos”, com Bibi Ferreira (ainda nem acredito que não a vi!). Mas tudo bem, isso serviu para que eu aprendesse que a máxima “o barato muitas vezes sai caro” funciona.
“Opera Cínica”, de Hugo Zorzetti, é apresentada pela Exercício Produções Artísticas. Com Cristhianne Lopes, Ilson Araújo, Antônio Carlos Aguiar, Christian Mariano, Ton Rocha e Amábile Nascimento no elenco. Bom, esse pessoal, consegue transformar o texto em uma comédia pastelão.
Para começar, um anjo, não se sabe porquê, é visto por todo mundo e dá palpite na vida de quem aparece no pregão de seu protegido. O engraçado é que ninguém questiona, em hora nenhuma, a existência daquele anjo, como se os víssemos aos bandos voando por aí e falando com os humanos.
Perde-se tempo demais no começo, com historinhas que não levam a lugar nenhum. Um exemplo é a de uma senhora que vai comprar um secador de cabelo e quer saber se o objeto vai dar choque ou não. Quando o dono do pregão diz que ela pode levar sem medo, a mulher tem um surto de raiva e começa a contar a história da irmã dela que comprou um aparelho de depilar e ficou grudada nele, tamanho o choque que levou!
Ah, sobre a senhora também tenho algo a dizer. Ela usava uma roupa que parecia de velha, com direito a xale e tudo, até andou encurvada no começo da cena, mas depois, quanto mais a raiva aumentava, mais a velhice diminuía. Tudo bem, vai que é um novo tratamento para rejuvenescer!
Mas a pior coisa da peça eu conto agora: como uma ópera que se preze, essa também tinha música. Que sofrimento, meu Deus! Cada vez que alguém começava a cantar, eu rezava para acabar logo. Um casal foi escalado para a parte musical. Eles não eram personagens da peça, simplesmente cantavam músicas que ajudavam a explicar a cena (pelo menos foi o que me pareceu). A moça usava expressões faciais exageradas demais na hora de cantar. As letras das músicas eram horríveis e repetitivas e a eram cantadas com toques parecidos com aqueles de karaokê.
Aí, quando eu já estava louca de vontade de ir embora, começou a parte boa do teatro (tive só que continuar rezando para a cantoria durar pouco). A história de Aristides (o melhor ator em cena, pena que não sei o nome dele), um homem pobre que tenta vender um caixão para o dono do pregão.
A mulher de Aristides foi atropelada e os médicos disseram que ela não sobreviveria. Para dar um enterro digno à mulher, ele pega adiantamento no serviço, vende móveis, faz empréstimo e compra o melhor caixão. Mas, para a surpresa dele, quando chega no hospital, a mulher sobreviveu e precisa de uma cirurgia. E, para isso, ele precisa pagar. A saída é vender o bem mais caro que ele possui. Exatamente: o caixão. E é assim, que ele encontra com o dono do pregão e o anjo da guarda.
Sem poder ajudá-lo, o dono do pregão chama a TV. A crítica ao espetáculo que a mídia faz em cima da desgraça e pobreza das pessoas é ótima. A jornalista exagera demais e faz com que o drama fique ainda maior. Ela inclusive põe o pobre do Aristides dentro do caixão para ficar mais cinematográfico e dar mais Ibope.
Depois que aparece na TV, Aristides recebe a visita de um deputado e de um grupo de mulheres que fazem caridade. Eles brigam entre si porque todos querem ajudá-lo. Depois, resolvem não ajudar mais e brigam entre si, para ver quem é que não vão ajudar. E assim, vão embora brigando.
Aí Aristides pergunta para o dono do pregão: “Será que isso vai mudar depois do dia 5 de outubro?”
E tem como resposta: “Vai mudar, sim, vai mudar para ...” e daí ele fala o nome de um monte de cidades goianas.
E pasmem, a peça termina aí...
Ótima idéia, só que mal aproveitada. Poderiam ter explorado bem mais a história de Aristides, que é o representante dos pobres na peça. Nele estão encarnadas a ineficiência do sistema de saúde, a falta de salários dignos para quem realmente trabalha e a falta de assistência social. É também, por meio da história dele, vemos o quanto a mídia e os políticos aproveitam e exploram a desgraça dos miseráveis. Mas, preocupada em ser engraçada demais a Exercício Produções Artísticas acaba fazendo algo raso.
Talvez, sem o lero-lero do começo e sem as músicas, desse mais tempo para desenvolver a história do Aristides e a peça ficasse mais interessante. Pra falar a verdade, o que quero dizer é: Transformem a ópera numa peça teatral pelo bem do público!


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2 comentários:

Anônimo disse...

Também quis muito assistir Bibi Ferreira no Teatro Goiânia. Mas, infelizmente, não deu.
=(

KK disse...

Gosto do Hugo. Já vi uma comédia dele e achei legal. Sempre com críticas aos políticos. Uma pena essa ter sido ruim.